terça-feira, abril 07, 2009

“O nome disso é marola”

A afirmação é do professor e historiador, Renato Barreto, que por e-mail manda uma avaliação e uma informação, sobre a economia em nosso país feita levando em consideração, um relatório produzido por uma agência internacional de classificação de risco. Esta avaliação ratifica e reforça o conteúdo da avaliação do economista Marcelo Neri da FGV reproduzido ontem aqui de entrevista da revista Época desta semana. Vale conferir o conteúdo e participar do debate: “O presidente Lula disse que a crise ia ser uma "marola". Jornalistas ironizam a frase e os partidos de oposição foram até para televisão repetir mais esse jingle de campanha. Podiam aproveitar e ironizar também a previsão do Standard & Poo'r, uma agência de classificação de risco. Em relatório divulgado ontem a agência afirma que em 2009 o Brasil vai crescer 4,1% o seu PIB. Enquanto o mundo mergulha em fortes retrações e a polêmica é quanto vão encolher, o Brasil cresce. O presidente e a agência podem estar errados, mas a frase de Lula é corroborada por agência internacional de risco. E mais, segundo o relatório "A forte popularidade do presidente Lula provavelmente facilitará a implementação de políticas que possibilitarão ao país enfrentar os grandes desafios econômicos que surgirão em 2009". Veja o relatório: “Standard & Poor's reafirma ratings de longo prazo em moeda estrangeira 'BBB-' da República Federativa do Brasil; perspectiva permanece estável. São Paulo (Standard & Poor’s), 6 de abril de 2009 – A Standard & Poor’s Ratings Services reafirmou hoje os ratings* de crédito soberano de longo e curto prazos em moeda estrangeira ‘BBB-/A-3’ da República Federativa do Brasil, bem como os ratings de crédito soberano de longo e curto prazos em moeda local ‘BBB+/A-2’. A perspectiva dos ratings de longo prazo permanece estável. A Standard & Poor’s também reafirmou sua avaliação de transferência e conversibilidade ‘BBB+’, e também seu rating ‘brAAA’ atribuído ao Brasil em sua Escala Nacional Brasil. “Os ratings atribuídos ao Brasil, no primeiro degrau da categoria de grau de investimento, continuam sendo suportados pelo compromisso do governo com políticas macroeconômicas prudentes no momento em que o aperto de crédito e a desaceleração econômica global têm afetado de forma significativa a economia local”, disse o analista de crédito soberano da Standard & Poor’s, Sebastián Briozzo. “A reafirmação desse compromisso mantém-se crítica para que o Brasil possa preservar a recente melhora em seus fundamentos e recuperar sua tragetória de crescimento sustentável quando a economia global se estabilizar”, completou. A forte popularidade do presidente Lula provavelmente facilitará a implementação de políticas que possibilitarão ao País enfrentar os grandes desafios econômicos que surgirão em 2009. Entretanto, “o Brasil continuará diante de vários desafios em 2010, um ano de eleições presidenciais, em face a uma recuperação apenas gradual da economia”, disse Briozzo. Apesar da melhora nos fundamentos do Brasil, a atividade econômica foi significativamente afetada pela instabilidade na economia global. Da mesma forma, revisamos para baixo as estimativas de crescimento do Brasil em 2009. “Agora acreditamos que PIB vai cair cerca de 1% em 2009, ante o crescimento de 5,1% registrado em 2008”, disse. Ainda que o cumprimento da meta de superávit primário do governo seja cada vez mais dificil, dado o baixo desempenho da receita fiscal, acreditamos que as implicações de longo prazo sobre a sustentabilidade da dívida serão limitadas. A Standard & Poor’s espera que o déficit do governo geral atinja 3.0% do PIB em 2009, apresentando uma pequena deterioração em relação ao déficit de 2,1% registrado em 2008. Esse indicador assume um superávit primário de 2,0% para o setor público não financeiro em 2009, menor que a meta reafirmada pelo governo de 3,3% do PIB (3,8%, quando se excluem alguns projetos de investimento de capital do cálculo da meta do governo). “O nível relativamente alto de endividamento do governo e a ainda elevada carga de juros continuam sendo os pontos fracos dos ratings do Brasil”, explicou Briozzo. ”Esses dois fatores exigirão responsabilidade fiscal no médio prazo”, disse. Outrossim, a significativa redução nas vulnerabilidades externas do País fornece uma proteção adicional contra choques negativos. A perspectiva dos ratings de longo prazo do Brasil permanece estável, refletindo o maior grau de flexibilidade macroeconômica acumulado pelo País nos últimos cinco anos – particularmente em suas contas externas – para lidar com os desafios impostos pela crise financeira internacional e seus efeitos sobre a economia local. No entanto, dadas as demais vulnerabilidades, particularmente no âmbito fiscal, continua sendo fundamental que o governo mantenha um forte compromisso com políticas macroeconômicas prudentes para conter qualquer deterioração na qualidade de crédito do Brasil. Confira a fonte: http://www2.standardandpoors.com/portal/site/sp/ps/la/page.article/2,1,1,0,1204845557885.html * Um rating é uma avaliação feita por agências de classificação sobre a capacidade e determinação de uma empresa ou governo em honrar os seus compromissos de dívida. A partir dos anos 90, o rating tornou-se uma condição indispensável para que empresas e países tenham acesso ao mercado financeiro internacional”. PS.: Corrigido erro de digitação do autor às 16:02.

12 comentários:

Renato Barreto disse...

Houve um erro na digitação:
Onde se lê "single", leia-se "jingle".

Léria Nunes disse...

Parabéns pelo blog,e pelo q escreves aqui...estarei sempre aqui lendo!

xacal disse...

Don Roberto,

O Renato me postou esse e-mail...

Recusei-me a publicar pois vi na tentativa de justificar a metáfora presidencial através de uma incoerência:

É certo que a crise não afetará o país com os níveis que a torcida do PIG, e das viúvas do FFHCC pretendem...

Mas utilizar agências de rating como um legitimador do nossa maior "imunidade" aos efeitos da crise é uma ação temerária...

Lembremo-nos que foram as agências de rating as princiais sócias dos modelos financistas especuladores que hoje quebraram o mundo...

Criaram índices e avaliações, regras e postulados para países e empresas, e depois se esforçavam em fazer suas "previsões" se realizarem, através da "mídia especializada" que pressionava governos a seguirem suas soluções...

Inclusive uma das agências de "rating" mais influentes ruíram junto com o conglomerado financeiro da qual fazia parte: o Lehman Brothers...

Um abraço...

Renato Barreto disse...

Não há nada “temerário”

Uma coisa é sustentarmos um discurso crítico em relação a agências de avaliação de risco. O mundo todo discute um maior controle sobre elas e isso foi debatido no encontro do G-20. Partilho da sua crítica neste aspecto.
Mas daí dizer que “agências de rating não são um bom legitimador do nosso discurso” como está no seu e-mail, isso para mim é dizer que a realidade tá errada. É negar o quanto essa avaliação pode ajudar o Brasil e seguir seu curso de crescimento.
Todos sabemos que as agências são muito poderosas, errando ou acertando. Gostemos disso ou não. Todos nós sabemos que os maiores fundos de investimentos do mundo proíbem em seus estatutos que se façam investimentos em países que não obtiveram grau de investimento. Também sabemos que os grandes investidores não levam a mão a suas bolsas sem antes consultar essas agências. A nota pode inclusive aumentar a procura por títulos brasileiros e assim diminuir os custos com empréstimos, além de beneficiar nossas empresas no cenário internacional. As agências têm poder e é ótimo para o Brasil ter grau de investimento em um momento de incertezas tão grandes como este.
Mas veja: Eu não escrevi que as agências legitimam nada. Eu não escrevi que o Brasil vai crescer tantos por cento, escrevi inclusive que Lula e a Standard & Poor’s “podem estar errados”. Minha questão é bem clara, se uma agência de risco diz que o Brasil vai crescer 4,1% ela está formulando uma previsão excelente para nossa economia em 2009, pois o cenário internacional é de retração. Ora se eles que são pagos para avaliar risco de investidores estão otimistas, por que Lula deveria estar pessimista? Repito, Lula fez uma previsão otimista para o Brasil neste cenário de crise. O Standard & Poor’s disse ontem que Lula tem razão.
Abraço

Claudio Kezen disse...

Concordo com o Xacal:

É temerário sim. Quando as agências de rating engessam países em rótulos que representam riscos de investimento de capital exterior, elas são agentes do imperialismo neo-liberal.

Quando elas resolvem reverenciar economias em desenvolvimento como a nossa, como num passe de mágica passam a vetores de ajuda na continuidade do desenvolvimento brasileiro.

Esta avaliação do prezado Renato Barreto tem nome e sobrenome: manipulação pura e simples de eventos que possar alavancar a propaganda neo-fisiológica-síndico-barbudinha.

Direita e esquerda se igualam no odioso mister de manipularem os fatos ao seu bel prazer.

ô raça...

Igor disse...

Prezado Prof. Renato,

enquanto não descobrirem qual é o real endividamento e quão podres são os ativos dos grandes bancos, qualquer análise futura não tem qualquer valor.

O Xacal está certíssimo.

xacal disse...

Renato,

Como você pode bem notar em meu texto, ressalto, e pode não ter ficado claro, que também concordo que a crise não seja tão grande quanto parece...mas, nem tão grave que não mereça muito cuidado...

O problema é que nesse caso, as agências de "rating" apenas "chovem no molhado", e embarcam na realidade(o Brasil está bem melhor que os outros)para tentarem recuperar sua "credibiidade"...

E se é verdade que você acredita no que me falou em em seu e-mail(guerra é guerra...)creio não ser producente legitimar um discurso de quem não tem credibilidade só porque nos favorece...

É o que chamaria de oportunismo de mão dupla: nós tentamos dizer: viu, até eles nos dão razão...e eles, a seu modo, reconquistam terreno por dizer o óbvio...

Não nego a realidade...só que procuro ter meus filtros para enxergá-la, e não serão através das lentes do mercado financista e suas agências que pautarei o meu discurso...

Mas você fique à vontade para fazê-lo...um fraternal abraço...

Anônimo disse...

1- Análise futura não tem valor? Estranho, mas onde os investidores vão meter seu dinheiro? Será que não vêem que disso depende m milhões de empregos no Brasil?
2- Não vi nada de “manipulação” na análise do professor aí, a notícia é boa para o Brasil, boa para os brasileiros. Se o governo se beneficia com isso ótimo, parabéns para ele. Mas em 2010 eu sou Serra.

Anônimo disse...

Esta agências do mal são apenas órgãos poderosíssimos que direcionam onde estão as "galinhas gordas" para que os "lobos" as ataquem e devorem. Obviamente depois de devorá-las, trocam de "galinheiro". O brasil está "bem" porque o nº de desempregados já é imenso há décadas, e as estatísticas são manipuladas. Basta olhar para campos, macaé, rio de janeiro, são paulo, norte de minas, bahia,etc. para enxergarmos o que é o verdadeiro desemprego. Para mim devemos considerar desempregado todo aquele que não possui vínculo empregatício, sem carteira de trabalho assinada. São os chamados informais.São milhões e milhões, mas fazem parte da economia nacional. Então é óbvio que nos países desenvolvidos, onde a grande maioria é empregada com registro, o nº de desempregados seja maior do que o nosso pobre brasil. Continuamos pobres, dependentes, humilhados, sem esperanças, tristes, etc. Ainda somos a maior carga tributária do mundo. Ainda temos a gasolina mais cara do mundo. Temos o senado e a câmara mais caros do mundo. Temos a justiça mais lenta e corrupta do mundo. Alguém aí conhece alguma marca de carro, de equipamentos eletrônicos, de equipamentos médicos, de medicamentos, de máquinas modernas que sejam inteiramente nacional ? Temos a pior distribuição de renda do mundo. Nossas leis são "velhas" assim como nosso judiciário.
Não me iludo com fogos e teorias acadêmicas. Vamos melhorar, mas muita gente precisa ir para o "paredão". É muito fácil acharmos que o desemprego cresceu pouco com a crise. Concordo. Só que
já tínhamos milhões de desempregados antes da crise, e quando generalizamos o fato, esquecemos que aquele pai de família que agora perdeu seu emprego com certeza vai tentar alguma coisa para "fazer" dinheiro. E a informalidade e o "errado", estarão lhe aguardando com os braços abertos.

Anônimo disse...

O Renato só fica defendendo o governo e na hora que chamam ele para o debate, mesmo sendo o Xacal, um "companheiro", ele recusa para preservrar a sua reputacao. Lamentável para um cara tao inteligente.

Renato Barreto disse...

Caro Xacal, primeiro retribuo o “fraternal abraço” com o apreço de longa data.
Mas temos enfim uma divergência clara neste debate, a questão é importante, penso eu.
Estamos falando de critério de seleção de informações e neste mundo onde há informação de sobra isso é relevante.
Não vou deixar de usar uma informação só por que ela advém de uma organização com a qual eu não simpatizo, ademais discordo completamente de você quando diz que agências “não têm credibilidade”. Elas possuem muita credibilidade junto aos investidores, podemos não gostar disso, mas é a realidade. Não há oportunismo nenhum nisso. Muito menos de mão dupla, uso as informações que acho que podem me ajudar a entender a realidade, não seleciono minhas “fontes” por viés ideológico. A gente já leu um monte de lixo produzido pela esquerda, hoje olho pra eles na estante e penso, quanto tempo desperdiçado.
Um abraço

pastel disse...

Renato,houve um erro de interpretação no relatório da agência, pois a quando a agência diz "Agora acreditamos que PIB vai cair cerca de 1% em 2009, ante o crescimento de 5,1% registrado em 2008”, não pode ser interpretado como um crescimento de 4,1%.Sou da opinião que estamos em uma situação privilegiada em relaçao ao mundo,um baque na ecomia mundial como este que estamos vivendo, caso ocorresse nos tempos de FHC, com certeza o pais estaria de 4 pedindo arrego, mas com certeza um crescimento deste nível(4,1%) na atual situação é utopia,até meso o Governo não acredita nisto,principalmente depois de ano de crescimento forte, como foi o ano passado.